A democracia está a encolher

Nos últimos anos (mais concretamente desde 2015) a média mundial do índice de democracia está a diminuir. Este índice, concebido pela empresa britânica Economist Intelligence Unit, que pertence ao grupo que edita a prestigiada revista “The Economist”.

Este dado só por si não seria muito alarmante pelo simples facto de que o método usado para elaborar o índice é a resposta a um questionário de cerca de 60 perguntas por parte de um conjunto de pessoas que a empresa não revela nem quantas são nem quem são.

Contudo, nestes últimos anos temos assistido a resultados eleitorais que considero que são motivo de preocupação. Partidos de extrema-direita e xenófobos a obterem grandes resultados em detrimento dos partidos moderados. Na Alemanha, o partido “Alternativa para a Alemanha” conseguiu em 2017 ser a terceira força mais votada na primeira vez que teve deputados eleitos e no último domingo de outubro conseguiu passar a ter eleitos em todos os parlamentos regionais. Em Abril deste ano, na Hungria as eleições foram ganhas por um partido de extrema-direita com maioria absoluta. Em segundo lugar ficou um partido radical nacionalista. Juntos perfazem mais de três quartos do parlamento húngaro.

O último sinal de alarme veio no final de outubro do Brasil, onde Jair Bolsonaro candidato da extrema-direita foi eleito 38º presidente do Brasil. Com mais de 10 milhões de votos de diferença sobre o adversário, Bolsonaro recolheu quase 58 milhões de votos.

Bolsonaro tem tido posições polémicas. Já se manifestou favorável à introdução da pena de morte. Na primeira entrevista que deu depois de eleito, defendeu não só o acesso generalizado da população a armas de fogo, mas também a despenalização a quem atira a matar a um ladrão. Negou que o período militar (1964-1985) tenha sido uma ditadura, atribuindo essa designação a uma invenção da esquerda.

Como democrata que sou, não posso deixar de sentir preocupação por estes sinais que indicam que a democracia está a diminuir no mundo. No entanto, olhando para o nosso país, constato que houve habilidade nos nossos políticos para encontrarem uma saída governativa (chamem-lhe “geringonça” ou outra coisa qualquer) que respeita a vontade expressa pelo voto e, em simultâneo oferece estabilidade parlamentar. Apesar de na altura não ter sido um entusiasta da “geringonça”, reconheço hoje que foi uma boa solução para o cenário que o país enfrentava.

Espero que a tendência que o índice de democracia registou nos últimos anos se inverta no próximo ano, com eleições para os parlamentos nacionais em vários países da europa (Portugal, Bélgica, Polónia, Finlândia, Estónia e Dinamarca) e também para o Parlamento Europeu.

 

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